Erros Médicos

  Artigo, 15 de Fev de 2013

Jornal do Brasil/ Vanderson Carvalho Neri*

Nos últimos tempos as notícias não tem sido muito animadoras no que se refere a relação médico-paciente, no seu sentido direto ou indireto de análise. Temos visto greves em hospitais universitários, múltiplas mortes ou sequelas após procedimentos cirúrgicos, insatisfação por parte dos médicos, inúmeras reclamações e ações nos conselhos regionais de medicina, e para agravar ainda mais a situação, soubemos, no final do ano passado, que mais de 54% dos médicos recém formados não estão aptos a exercer, de forma competente, a profissão.

Enfim, estamos em uma crise geral na Medicina brasileira. E as perguntas mais óbvias são: de quem é a culpa? Quais são os erros?

As respostas para esses questionamentos são complexas, variadas, mas conhecidas há muito tempo. Desde os primórdios da organização da saúde pública no Brasil há uma preocupação em se formar profissionais para atender a demanda de atendimentos; com o crescimento da população, essa necessidade de atendimento é cada vez mais crescente. Talvez aí esteja um dos principais focos de erro no que concerne à procura e à oferta de atendimento médico de qualidade.

A cada ano que passa novas faculdades de medicina são abertas em nosso país. Entre 2000 e 2012 foram inaugurados 98 novos cursos em todo o Brasil, perfazendo um total de 198 escolas médicas. Até 2014 a proposta do governo federal é ampliar em duas mil o número de vagas para os cursos de graduação em medicina, alegando a falta de profissionais, sobretudo nas regiões mais distantes dos grandes centros.

Essa curva de crescimento nos cursos de graduação não é acompanhada pelo crescimento de vagas para os cursos de residência médica, onde o egresso do curso médico tem a oportunidade de se especializar e ampliar sua formação clínica e acadêmica. Atualmente, cerca de 6000 novos médicos que se formam a cada ano não tem oportunidade de entrar em um curso de residência médica, engrossando as estatísticas de profissionais sem especialização, e que acabam sendo empurrados para o sistema de atendimento contínuo em emergências e pronto atendimentos, se sujeitando a cargas horárias extenuantes e condições de trabalho nem um pouco agradáveis.

O baixo rendimento médio mensal, sobretudo nos grandes centros, tem impulsionado esses profissionais a procurar mais horas de trabalho, em rotinas cansativas, sequenciadas, o que certamente tem repercussões sobre a qualidade do atendimento. Há uma cobrança cada vez maior dos gestores para aumentar a carga horária e o atendimento dos pacientes; preocupa-se muito com a quantidade de atendidos ao final do mês, mas esquece-se do ponto mais relevante: a qualidade desse atendimento. O resultado só pode ser um: profissionais desgastados, desvalorizados e pacientes constantemente insatisfeitos.

Os erros então, a meu ver, são dos médicos, que aceitam tais condições de trabalho e de remuneração (seja no setor público ou no privado), dos gestores do nosso sistema de saúde, que não se mobilizam para mudar o cenário atual de desgaste e melhorar a formação médica e de atendimento em nosso país, e também da sociedade, usuária desse sistema e vítima direta desse processo constante de erros, que parece estar alheia aos seus direitos enquanto cidadãos amparados por uma constituição democrática que está em vigor.

Não precisamos de mais escolas médicas, precisamos de melhores médicos, mais bem formados e comprometidos com a causa de seus doentes. Não precisamos somente de leitos hospitalares e equipamentos de exames diagnósticos, precisamos também de médicos com vontade de trabalhar, que sejam remunerados e impulsionados a fazer um bom atendimento e que gostem de sua profissão. Não precisamos só da descentralização de profissionais para o interior, mas sim de levar médicos capacitados, humanizados e atentos às necessidades da sociedade. Os médicos valem muito e devem ser respeitados por isso, da mesma forma que os pacientes, reais sofredores de toda essa história e que certamente merecem ser tratados com dignidade, respeito e atenção. Trata-se da urgência de um esforço coletivo para se sanear as necessidades gerais e evitar a perpetuação de erros antigos.

Portanto, essa questão, que nos aflige há décadas, não deve ser encarada como uma situação secundária no cenário nacional. Deve ser prioridade nas discussões da administração pública e também privada. É necessário haver menos intenções políticas, eleitoreiras e corporativistas e mais interesse pelas necessidades reais de nossa sociedade.

Vanderson Carvalho Neri é médico neurologista. vandersoncn@yahoo.com.br

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